15 fevereiro, 2008

A ESMOLA NESTA QUARESMA

"Todos os anos, a Quaresma oferece-nos uma providencial ocasião para aprofundar o sentido e o valor do nosso ser de cristãos, e estimula-nos a redescobrir a misericórdia de Deus, a fim de nos tornarmos, por nossa vez, mais misericordiosos para com os irmãos. No tempo quaresmal, a Igreja tem o cuidado de propor alguns compromissos específicos que ajudem, concretamente, os fiéis neste processo de renovação interior: tais são a oração, o jejum e a esmola." Continuando o seu discurso, o Papa Bento XVI, na sua mensagem quaresmal, analisa a prática da esmola, realçando alguns aspectos, nomeadamente:
· "Não somos proprietários mas administradores dos bens que possuímos: assim, estes não devem ser considerados propriedade exclusiva, mas meios através dos quais o Senhor chama cada um de nós a fazer-se intermediário da sua providência junto do próximo."
· "O Evangelho ressalta uma característica típica da esmola cristã: deve ficar escondida" e "tudo deve ser realizado para glória de Deus, e não nossa"
· "A Escritura ensina-nos que há mais alegria em dar do que em receber", porque "todas as vezes que por amor de Deus partilhamos os nossos bens com o próximo necessitado, experimentamos que a plenitude de vida provém do amor e tudo nos retorna como bênção sob forma de paz, satisfação interior e alegria. O Pai celeste recompensa as nossas esmolas com a sua alegria."
· "A esmola educa para a generosidade do amor."
Deste modo, "a Quaresma convida-nos a «treinar-nos» espiritualmente, nomeadamente através da prática da esmola, para crescermos na caridade e nos pobres reconhecermos o próprio Cristo. (...) Que este período se caracterize, portanto, por um esforço pessoal e comunitário de adesão a Cristo para sermos testemunhas do seu amor."

A QUARESMA


O que é a Quaresma?
A Quaresma é o tempo do Ano Litúrgico preparatório da Páscoa e que vai da Quarta-Feira de Cinzas até Quinta-Feira Santa (a Quinta-Feira Santa já pertence ao Tríduo Pascal).A Quaresma surgiu no séc. IV, a seguir à paz de Constantino, quando multidões de pagãos quiseram entrar na Igreja. Duas instituições a ela estão ligadas; a penitência pública e o catecumenado. Daí o seu duplo carácter penitencial e baptismal. Inicialmente durava 3 semanas, mas depois, em Roma, foi alargada a 6 semanas (40 dias), com início no actual I Domingo da Quaresma (na altura denominado Quadragesima die, entenda-se 40.º dia anterior à Páscoa).

O termo Quadragesima (que deu a nossa "Quaresma") passou depois a designar a duração dos 40 dias evocativos do jejum de Jesus no deserto a preparar-se para a vida pública. Como, tradicionalmente, aos Domingos nunca se jejuou, foi necessário acrescentar alguns dias para se perfazerem os 40. Daí a antecipação do início da Quaresma para a Quarta-Feira de Cinzas.

A Quaresma é um tempo forte de penitência. Para assegurar expressão comunitária à prática penitencial, sobretudo no tempo da Quaresma, a Igreja mantém o jejum e a abstinência tradicionais. Em Portugal, são dias de jejum para os fiéis dos 18 aos 59 anos (a menos de dispensa, por doença ou outra causa) a Quarta- Feira de Cinzas e a Sexta-Feira Santa (convidando a liturgia a prolongar o jejum deste dia ao longo de Sábado Santo). E são dias de abstinência de carne, para os fiéis depois dos 14 anos (embora seja bom que a iniciação nesta prática se faça mais cedo), as Sextas-feiras do ano (a menos que cesse a obrigação pela coincidência com festa de preceito ou solenidade litúrgica), com possibilidade de substituição por outras práticas de ascese, esmola (caridade) ou piedade, embora seja aconselhado manter a prática tradicional nas sextas-feiras da Quaresma.

No que respeita à esmola, ela deve ser proporcional às posses de cada um e significar verdadeira renúncia, podendo revestir- se da forma de "contributo penitencial" (ou "renúncia quaresmal") com destino indicado pelo bispo.

AS TENTAÇÕES DE JESUS

Desde os primeiros séculos, os cristãos determinaram um tempo de penitência antes da Páscoa. Os 40 dias da Quaresma estão ligados às três tentações de Jesus, pois os Evangelhos referem que, antes de ser tentado, Jesus foi para o deserto onde jejuou 40 dias, pretendendo significar que Jesus é o novo Moisés, que vem para fundar um novo povo (a relação entre Moisés e Jesus é vísivel nos 40 dias no Sinai e nos 40 anos de viagem no deserto, o alimento milagroso do maná, o jejum e a palavra de Deus).Só Mateus e Lucas narram as tentações concretas; Marcos apenas diz que Jesus foi tentado e João não fala nestas tentações. O texto de Mateus situa-se depois do Baptismo, com que Jesus inaugura a sua vida pública e é um modo de dizer quem é Jesus (o Filho de Deus feito verdadeiro homem). Não é, pois, uma tentação como as nossas. Mateus narra-as em três cenas e uma conclusão: uma tem lugar no deserto e as outras duas em lugares altos.Em 11 versículos, o Adversário de Jesus é citado seis vezes com o nome de Diabo, Tentador e Satanás. Quem é ele? É um personagem que caracteriza as forças do Mal, neste caso, tudo o que se opõe ao projecto messiânico de Jesus, que veio salvar a humanidade decaída, não com as honrarias que o Adversário lhe promete, mas dando a vida por todos. Jesus, Filho de Deus, defrontou e venceu o seu Adversário. Em cada um de nós travam-se também batalhas semelhantes, entre o projecto que Deus tem para nós e os projectos pessoais e egoístas que nós arranjamos. A qual dos dois projectos queremos obedecer?

12 fevereiro, 2008

D. Amândio Tomás


Determinado em propor mudanças:
Em Vila Real, D. Amândio Tomás quer rever métodos pastorais, apostar na formação, propor aos padres menos missas de afogadilho e aos leigos menos sacramentos recebidos com leviandade.
D. Amândio Tomás iniciou o seu ministério episcopal em Vila Real e quer propor mais catequese e travar uma religiosidade assente apenas na prática sacramental, sobretudo quando ela tem motivações sociais. Para travar é também a “hemorragia” dos transmontanos para as cidades do litoral, o que pressupõe a criação de condições que permitam vida economicamente estável no interior.Na celebração de acolhimento do Bispo Coadjutor da Diocese de Vila Real, conheceram-se as determinações de quem voltou à sua terra. “Voltei para anunciar Cristo”, referiu D. Amândio Tomás às centenas de transmontanos que acolheram com orgulho um Bispo transmontano, saudando-o ao longo do cortejo entre o Governo Civil da cidade e a Sé da Diocese que antecedeu a Eucaristia de início de ministério, neste Domingo. Às dezenas de sacerdotes e leigos que ouviram expôs, na homilia da missa, um conjunto de ideias para a dinamização de todos os católicos na região.Ponto de honra para o ministério do Bispo Coadjutor é tudo fazer de acordo com aquele que é o Bispo Diocesano, D. Joaquim Gonçalves. “Tudo farei com o meu bispo e nada contra ele”. Parceiro no ministério episcopal em Vila Real, D. Amândio quer contar com a proximidade e orientação de D. Joaquim, agora em recuperação do transplante cardíaco a que foi submetido. “Ajudai-me a ajudar o nosso bispo. Nós precisamos muito dele, do seu conselho, da sua experiência”, referiu.Nesta Diocese, D. Amândio está determinado em revestir a prática das comunidades cristãs de convicções profundas. Para isso, disse ser preciso apostar na catequese, revendo métodos de coordenação e animação pastoral na Diocese. A todos, sacerdotes e leigos, D. Amândio pede que “não se deixem intimidar pelas ameaças do laicismo e do relativismo”, reagindo a uma cultura que quer calar Cristo e os valores irrenunciáveis do cristianismo, como o valor da vida, da dignidade humana e do bem comum. “Sonho com cristãos comprometidos a animar a vida pública e a transformar por dentro a sociedade como locomotivas que arrastam, que contagiam, que galvanizam, opondo-se ao marasmo, à cobardia ao medo e à apostasia da fé”, referiu.

Menos missas de “afogadilho”

Para dinamizar a Igreja na Diocese, D. Amândio Tomás sugere “trabalho em rede”, a envolver padres, religiosos, movimentos. “Não sejais preguiçosos na vossa dedicação”, pediu o Bispo Coadjutor da Diocese, apostado em promover trabalhos de conjunto e não no isolamento de cada “quintal”.O trabalho pastoral dos padres da Diocese mereceu conselhos muito claros do Bispo que chegava a Vila Real: “mais catequese”, “menos sacramentos recebidos sem convicções” e “menos missas de afogadilho”.“Devemos apostar em menos missas de afogadilho, umas atrás das outras, para cumprir um programa, e mais catequese, sem contudo desprezar a eucaristia que é o coração da Igreja, que é fonte e ápice da sua actividade”.D. Amândio Tomás referia-se à necessidade de preparação dos sacramentos que merecem maior visibilidade social, nomeadamente o baptismo e o crisma e o matrimónio, e à grande sobrecarga que afecta os padres e outros ministros ordenados diante das solicitações dos muitos “serviços religiosos”. Para D. Amândio, é necessário “mudar de estratégia pastoral. Não podemos multiplicar missas e sacramentos”. Na homilia da missa, repetiu a necessidade de “mais catequese e de mais formação de pessoas e de consciências e de menos sacramentos recebidos com leviandade, a cumprir programas, sem convicções, recebidos por motivos fúteis”.

QUARESMA

A Quaresma é tempo de preparação para a Páscoa; tempo de saborear e aprofundar o sentido do nosso Baptismo, nas suas múltiplas implicações; tempo de aceitar o desafio de caminharmos ao encontro do verdadeiro rosto de Cristo, em escuta atenta da Palavra, na oração e no acolhimento da reconciliação sacramental; tempo de voltar para o Senhor com todo o coração, em conversão de amor a Deus e aos irmãos.
Juntos, nesta caminhada, vamos confiantes no amor misericordioso de Jesus, que faz caminho connosco, pelo deserto das nossas fragilidades e pecados, nos perdoa e conforta, nos mostra o caminho da alegria pascal.

10 fevereiro, 2008

Vila Real prepara recepção solene de D. Amândio Tomás

No dia 10 de Fevereiro, primeiro Domingo de Quaresma, às 15.30 horas, vai ocorrer a recepção solene do novo Bispo Coadjutor de Vila Real, D. Amândio José Tomás. Da capela do antigo Hospital da Misericórdia, sairá o cortejo litúrgico, para a Sé Catedral. A convite do Bispo Titular, D. Joaquim Gonçalves que, por razões de saúde, não poderá estar presente na cerimónia, presidirá à celebração o Arcebispo de Braga e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ferreira Ortiga.O novo Bispo nasceu em Cimo de Vila da Castanheira (Chaves), em 23 de Abril de1943, filho de João dos Reis Tomás (já falecido) e de Esperança Maria Tomás, sendo o mais velho de uma família de cinco irmãos. De 1955 a 1967, frequentou e concluiu os estudos de Humanidades, Filosofia e Teologia, no Seminário Diocesano de Vila Real. Foi ordenado Presbítero, em 1967. Prosseguiu os estudos teológicos na Universidade Gregoriana, aí obtendo, dois anos depois, a licenciatura em Teologia Dogmática. Regressado a Portugal, leccionou Teologia no Seminário de Lamego, foi Director Espiritual do Seminário de Vila Real e professor de Moral, no Liceu Camilo Castelo Branco. Também leccionou Teologia, no Seminário Maior do Porto e ICHT (Instituto de Ciências Humanas e Teológicas), de 1971-1976. Regressado a Roma, para frequentar o Pontifício Instituto Bíblico, licenciou-se em Ciências Bíblicas, em 1980, ano em que foi nomeado Vice-Reitor do Colégio Pontifício Português, passando a Reitor, em 1982, cargo que exerceu, até 2001.Em Outubro de 2001, foi eleito Bispo Auxiliar de Évora, sendo ordenado na festa da Epifania do ano 2002, na Basílica de S. Pedro, pelo Papa João Paulo II. Em 8 de Janeiro de 2008, foi nomeado Bispo Coadjutor da Diocese de Vila Real.

01 fevereiro, 2008

«Cristo fez-Se pobre por vós» - Mensagem de Bento XVI para a Quaresma de 2008

«Cristo fez-Se pobre por vós»
Queridos irmãos e irmãs!1. Todos os anos, a Quaresma oferece-nos uma providencial ocasião para aprofundar o sentido e o valor do nosso ser de cristãos, e estimula-nos a redescobrir a misericórdia de Deus a fim de nos tornarmos, por nossa vez, mais misericordiosos para com os irmãos. No tempo quaresmal, a Igreja tem o cuidado de propor alguns compromissos específicos que ajudem, concretamente, os fiéis neste processo de renovação interior: tais são a oração, o jejum e a esmola. Este ano, na habitual Mensagem quaresmal, desejo deter-me sobre a prática da esmola, que representa uma forma concreta de socorrer quem se encontra em necessidade e, ao mesmo tempo, uma prática ascética para se libertar da afeição aos bens terrenos. Jesus declara, de maneira peremptória, quão forte é a atracção das riquezas materiais e como deve ser clara a nossa decisão de não as idolatrar, quando afirma: «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Lc 16, 13). A esmola ajuda-nos a vencer esta incessante tentação, educando-nos para ir ao encontro das necessidades do próximo e partilhar com os outros aquilo que, por bondade divina, possuímos. Tal é a finalidade das colectas especiais para os pobres, que são promovidas em muitas partes do mundo durante a Quaresma. Desta forma, a purificação interior é corroborada por um gesto de comunhão eclesial, como acontecia já na Igreja primitiva. São Paulo fala disto mesmo quando, nas suas Cartas, se refere à colecta para a comunidade de Jerusalém (cf. 2 Cor 8-9; Rm 15, 25-27).2. Segundo o ensinamento evangélico, não somos proprietários mas administradores dos bens que possuímos: assim, estes não devem ser considerados propriedade exclusiva, mas meios através dos quais o Senhor chama cada um de nós a fazer-se intermediário da sua providência junto do próximo. Como recorda o Catecismo da Igreja Católica, os bens materiais possuem um valor social, exigido pelo princípio do seu destino universal (cf. n. 2403).É evidente, no Evangelho, a admoestação que Jesus faz a quem possui e usa só para si as riquezas terrenas. À vista das multidões carentes de tudo, que passam fome, adquirem o tom de forte reprovação estas palavras de São João: «Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como pode estar nele o amor de Deus?» (1 Jo 3, 17). Entretanto, este apelo à partilha ressoa, com maior eloquência, nos Países cuja população é composta, na sua maioria, por cristãos, porque é ainda mais grave a sua responsabilidade face às multidões que penam na indigência e no abandono. Socorrê-las é um dever de justiça, ainda antes de ser um gesto de caridade.3. O Evangelho ressalta uma característica típica da esmola cristã: deve ficar escondida. «Que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita», diz Jesus, «a fim de que a tua esmola permaneça em segredo» (Mt 6, 3-4). E, pouco antes, tinha dito que não devemos vangloriar-nos das nossas boas acções, para não corrermos o risco de ficar privados da recompensa celeste (cf. Mt 6, 1-2). A preocupação do discípulo é que tudo seja para a maior glória de Deus. Jesus admoesta: «Brilhe a vossa luz diante dos homens de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos Céus» (Mt 5, 16). Portanto, tudo deve ser realizado para glória de Deus, e não nossa. Queridos irmãos e irmãs, que esta consciência acompanhe cada gesto de ajuda ao próximo evitando que se transforme num meio nos pormos em destaque. Se, ao praticarmos uma boa acção, não tivermos como finalidade a glória de Deus e o verdadeiro bem dos irmãos, mas visarmos antes uma compensação de interesse pessoal ou simplesmente de louvor, colocamo-nos fora da lógica evangélica. Na moderna sociedade da imagem, é preciso redobrar de atenção, dado que esta tentação é frequente. A esmola evangélica não é simples filantropia: trata-se antes de uma expressão concreta da caridade, virtude teologal que exige a conversão interior ao amor de Deus e dos irmãos, à imitação de Jesus Cristo, que, ao morrer na cruz, Se entregou totalmente por nós. Como não agradecer a Deus por tantas pessoas que no silêncio, longe dos reflectores da sociedade mediática, realizam com este espírito generosas acções de apoio ao próximo em dificuldade? De pouco serve dar os próprios bens aos outros, se o coração se ensoberbece com isso: tal é o motivo por que não procura um reconhecimento humano para as obras de misericórdia realizadas quem sabe que Deus «vê no segredo» e no segredo recompensará.4. Convidando-nos a ver a esmola com um olhar mais profundo que transcenda a dimensão meramente material, a Escritura ensina-nos que há mais alegria em dar do que em receber (cf. Act 20, 35). Quando agimos com amor, exprimimos a verdade do nosso ser: de facto, fomos criados a fim de vivermos não para nós próprios, mas para Deus e para os irmãos (cf. 2 Cor 5, 15). Todas as vezes que por amor de Deus partilhamos os nossos bens com o próximo necessitado, experimentamos que a plenitude de vida provém do amor e tudo nos retorna como bênção sob forma de paz, satisfação interior e alegria. O Pai celeste recompensa as nossas esmolas com a sua alegria. Mais ainda: São Pedro cita, entre os frutos espirituais da esmola, o perdão dos pecados. «A caridade – escreve ele – cobre a multidão dos pecados» (1 Pd 4, 8). Como se repete com frequência na liturgia quaresmal, Deus oferece-nos, a nós pecadores, a possibilidade de sermos perdoados. O facto de partilhar com os pobres o que possuímos, predispõe-nos para recebermos tal dom. Penso, neste momento, em quantos experimentam o peso do mal praticado e, por isso mesmo, se sentem longe de Deus, receosos e quase incapazes de recorrer a Ele. A esmola, aproximando-nos dos outros, aproxima-nos de Deus também e pode tornar-se instrumento de autêntica conversão e reconciliação com Ele e com os irmãos.5. A esmola educa para a generosidade do amor. São José Bento Cottolengo costumava recomendar: «Nunca conteis as moedas que dais, porque eu sempre digo: se ao dar a esmola a mão esquerda não há de saber o que faz a direita, também a direita não deve saber ela mesma o que faz » (Detti e pensieri, Edilibri, n. 201). A este propósito, é muito significativo o episódio evangélico da viúva que, da sua pobreza, lança no tesouro do templo «tudo o que tinha para viver» (Mc 12, 44). A sua pequena e insignificante moeda tornou-se um símbolo eloquente: esta viúva dá a Deus não o supérfluo, não tanto o que tem como sobretudo aquilo que é; entrega-se totalmente a si mesma.Este episódio comovedor está inserido na descrição dos dias que precedem imediatamente a paixão e morte de Jesus, o Qual, como observa São Paulo, fez-Se pobre para nos enriquecer pela sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9); entregou-Se totalmente por nós. A Quaresma, nomeadamente através da prática da esmola, impele-nos a seguir o seu exemplo. Na sua escola, podemos aprender a fazer da nossa vida um dom total; imitando-O, conseguimos tornar-nos disponíveis para dar não tanto algo do que possuímos, mas darmo-nos a nós próprios. Não se resume porventura todo o Evangelho no único mandamento da caridade? A prática quaresmal da esmola torna-se, portanto, um meio para aprofundar a nossa vocação cristã. Quando se oferece gratuitamente a si mesmo, o cristão testemunha que não é a riqueza material que dita as leis da existência, mas o amor. Deste modo, o que dá valor à esmola é o amor, que inspira formas diversas de doação, segundo as possibilidades e as condições de cada um.6. Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma convida-nos a «treinar-nos» espiritualmente, nomeadamente através da prática da esmola, para crescermos na caridade e nos pobres reconhecermos o próprio Cristo. Nos Actos dos Apóstolos, conta-se que o apóstolo Pedro disse ao coxo que pedia esmola à porta do templo: «Não tenho ouro nem prata, mas vou dar-te o que tenho: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda» (Act 3, 6). Com a esmola, oferecemos algo de material, sinal do dom maior que podemos oferecer aos outros com o anúncio e o testemunho de Cristo, em cujo nome temos a vida verdadeira. Que este período se caracterize, portanto, por um esforço pessoal e comunitário de adesão a Cristo para sermos testemunhas do seu amor. Maria, Mãe e Serva fiel do Senhor, ajude os crentes a regerem o «combate espiritual» da Quaresma armados com a oração, o jejum e a prática da esmola, para chegarem às celebrações das Festas Pascais renovados no espírito. Com estes votos, de bom grado concedo a todos a Bênção Apostólica.Vaticano, 30 de Outubro de 2007.BENEDICTUS PP. XVI.
Fonte: Ecclesia